inconsistência leve

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Desastre da região serrana do Rio sopra as velhinhas

Depois de pouco mais de um mês dos desastres ocorridos na região serrana do Rio, nada mais é falado sobre o assunto. Fico pasma em ver como as pessoas se esquecem logo dos acontecimentos. Quando os primeiro deslizamentos de terra ocorreram, todos os jornais noticiavam o caos que se instalou nos locais atingidos e destinavam quase toda a sua programação a esse fim. Entretanto, como um passe de mágica, o assunto sumiu dos noticiários repentinamente. Ao meu ver, é como se fosse assim: os jornais te sufocam falando sempre do mesmo assunto por mais ou menos duas semanas e depois, quando veem que os espectadores estão ficando saturados, partem para outras matérias, esquecendo-se completamente do problema anterior como se ele tivesse milagrosamente se resolvido. Será que depois de um mês,tudo voltou ao normal nas regiões atingidas? Bem, de acordo com testemunha local, milhares de pessoas continuam desabrigadas e achar um apartamento para alugar está quase impossível devido à grande procura. Porém, o interessante nessa história toda é que os jornais (com exceção de alguns da tv fechada) nem sequer citaram as questões políticas e sociais envolvidas nos deslizamentos no Rio. Todos falaram das questões físicas e naturais, mas poucos desenvolveram alguma reflexão mais profunda sobre as causas desta catástrofe. Será que as pessoas estão somente a mercê da natureza? Será que a culpa toda é do tipo de solo e da quantidade de chuvas? Ora, esses são, no mínimo, pretextos bem fajutos para desviar a atenção das causas reais envolvidas: a negligência do governo, a falta de consciência por parte da população (que é consequência da baixa escolaridade e da intensa pressão social) e a complacência generalizada do governo e da própria sociedade.

A negligência do governo na ocupação do espaço urbano foi determinante para a ocorrência de tamanho desastre e junto a ela podemos colocar também os ínfimos investimentos governamentais em prevenção. O que se vê no país é a carência quase total em prevenir situações calamitosas e de risco, o que não deixa de ser uma questão cultural. Eu não se porque, no Brasil, gasta-se tanto em reconstrução e tão pouco em prevenção. Eu não sei porque temos que esperar que uma catástrofe ocorra para tomarmos providências para melhorar. Eu não sei porque milhares de pessoas têm que morrer para que a sociedade vislumbre uma antes óbvia situação de perigo. Eu simplesmente não sei e essa cultura brasileira de passividade e conformismo me envergonha.

Ironicamente, ou não, um grande volume de chuvas atingiu a Austrália no mesmo período. A fundamental diferença é que enquanto centenas de pessoas vieram a óbito  no Brasil, somente 30 pessoas faleceram na Austrália. Isso é uma vergonha para o nosso país. Agora, eu questiono, por que a ocupação das encostas (com consequênte desmatamento) e das margens do rio foi permitida pelo governo na região serrana do Rio? O mais curioso, neste caso, é que não podemos levantar aquele velho errôneo pensamento de querer responsabilizar as pessoas marginalizadas da sociedade por construirem suas moradias em regiões de encosta ao invés de se instalar em locais mais seguros, porém longe do centro (costumamos pensar: será que elas não sabem que é arriscado? e nos esquecemos de que elas não têm saída....); não podemos culpar o sistema educacional deficiente e não podemos dizer que os baixos salários do atual mercado de trabalho impedem que grande parte da população se instale em locais apropriados, pois famílias ricas também possuiam casas no altos das encostas na região serrana do Rio, o que nos leva a crer que o principal culpado não foi a questão social em si (como foi enumerado acima), mas sim o descaso do governo relacionado à ocupação desmedida do local e às questões preventivas. Famílias de boa condição econômica,em sua maioria, possuem qualificação educacional e, portanto, tinham plena consciência do risco de se construir em encostas.Essas famílias pagavam impostos e obtiveram a autorização da prefeitura para construir suas casas. Ou seja, quem deveria priorizar a segurança e a preservação da mata nativa (até mesmo para prevenir os deslizamentos), liberou o desmatamento e a construção em locais inapropriados. Bem , o resultado todos nós vimos.

O mais triste é saber que a sociedade brasileira, única que pode clamar pela mudança de postura do governo em relação a medidas de prevenção e a uma fiscalização específica para ocupação, continua complacente com tal realidade de displicência com o social. Alguns entitulam o Brasil de "O país de todos", mas a verdade nua e crua é que ele não passa de um país de poucos, um país em que somente os que podem pagar conseguem ter alguma chance de viver dignamente.

 Os brasileiros são emotivos por natureza, isso é fato. Porém, se não pararmos de sentir somente pena frente a desastres que poderiam ter sido evitados e substituir esse sentimento por indignação e por atos concretos para mudança , seremos eternamente pessoas compassivas que choram diante de perdas evitáveis. Há muito mais para refletir e repensar acerca deste e de tantos outros assuntos que envolvem o brasileirinhos. A questão é: a sociedade ainda possui a capacidade de enxergar mais longe e de se opor a realidades de que não gosta ou já foi toda tomada pelo não pensar contínuo que, entre outros motivos, a pobre programação televisiva brasileira impõe de segunda e segunda (o que também seria um outro assunto a ser refletido)? Se a população como um todo não modificar o modo de agir e de pensar, enfim, se nada for feito, daqui a pouco o país verde-amarelo ficará escondido sob a cor cinza dos escombros.

3 comentários:

Jasanf disse...

Perfeita a sua análise-argumentativa. Irei indicar seu blog para todos lerem seu texto. Parabéns e virei seguidor. Abraço,
Jasanf.

Claudia Alves disse...

Você é muito politizada, escreve bem.
gostei da argumentação.
to seguindo

geni disse...

Muito boa suas colocações Bela,

Falei exatamente isso com meus filhos algumas semns atrás,(só não consigo colocar no papel com toda essa sua segurança e conhecimento)qdo no outro dia vi dois canais falarem rapidamente sobre o assunto...mas parou por ai...
Realmente precisamos parar de "dormir em berço explêndido e reagir.
Abçs e parabéns pelas colocações
Gení
magiadailha.blogspot.com